O ecossistema brasileiro conta com múltiplas opções de financiamento para startups early stage e é importante o empreendedor saber navegar nestas opções para optar pela mais adequada para sua startup. A seguir comento as principais:
- Bootstrapping:
- O que é? Financiamento da startup com recursos próprios do empreendedor, sem depender de investidores externos.
- Vantagens: Total controle sobre a empresa, sem diluição de participação ou interferência externa.
- Desvantagens: Limitação de recursos pode restringir o crescimento e aumentar o estresse financeiro pessoal. Também a falta de apoio intelectual de investidores experientes pode retardar o crescimento e aumentar a chance de decisões erradas.
- Family, Friends, and Fools (FFF):
- O que é?: Investimentos iniciais feitos por pessoas próximas ao empreendedor, geralmente familiares ou amigos.
- Vantagens: Menos burocracia, mais flexibilidade nos termos e confiança mútua.
- Desvantagens: tanto o risco de envolver relações pessoais com o negócio quanto o fato destes investidores geralmente não trazerem experiência útil para o empreendedor
- Dica: é fundamental o empreendedor ser muito claro sobre os riscos de investir numa startup bem no início, ou seja, que as chances de não dar certo são altas. Para compensar a provável falta de mentores experientes participar ativamente de comunidades de empreendedores para trocar experiências.
- Aceleradoras:
- O que são? São empresas que oferecem uma combinação de investimento financeiro, capacitação, mentorias e acesso a uma rede de contatos, principalmente com empreendedores mais experientes, possíveis clientes e investidores para novas rodadas.
- Vantagens: Apoio intensivo e especializado, aumento da visibilidade e credibilidade, oportunidades de networking. Aceleradoras tem equipe dedicada e experiente no apoio às startups do portfólio. A combinação disso com uma comunidade relevante, ajuda muito na busca de solução rápida e eficiente para os problemas enfrentados em toda jornada da startup.
- Desvantagens: Há sempre uma contrapartida em participação na empresa. Algumas aceleradoras exigem presença física durante a aceleração.
- Dicas: conversar com as startups do portfólio da aceleradora para confirmar que ela entrega o que promete em termos de apoio. Cuidar para que a participação cedida não seja muito relevante, o que poderia atrapalhar novas rodadas. Geralmente deve ficar abaixo dos 10%.
- Equity Crowdfounding:
- O que é? São plataformas que reúnem milhares de investidores que geralmente estão dando os primeiros passos no investimento em startup, pois permite valores baixos de investimento. A plataforma faz a curadoria das startups que vão ofertar e toda a gestão do processo de investimento e desinvestimento.
- Vantagens: Numa rodada podem entrar centenas de investidores, que passam a ser embaixadores da startup que estão investindo, o que pode ajudar na geração de indicações de clientes.
- Desvantagens: Ter que lidar, mesmo que indiretamente, com centenas de investidores. Conforme a governança adotada, isto pode assustar novos investidores
- Dica: garantir uma governança que simplifique a gestão dos investidores. Entender bem as taxas cobradas, tanto na entrada quanto na saída.
- Investidor Anjo:
- O que é? Investidores individuais que aportam capital e oferecem mentoria e conexões. Geralmente atuam em grupos ou clubes de investimento.
- Vantagens: Como a decisão de investimento é feita individualmente, por cada anjo, geralmente há uma maior flexibilidade de tese de investimento, dependendo da afinidade do investidor com a proposta da startup.
- Desvantagens: Pode haver diferenças de opinião entre os investidores atrasando decisões que os envolvem, como novas rodadas ou mesmo venda da startup. Conforme o perfil e experiência dos anjos, há risco de microgestão ou excesso de interferência na gestão da startup, por isso é importante um alinhamento de expectativas antes do investimento.
- Dica: conversar com outras startups do portfólio do Anjo para entender de fato o perfil de cada anjo. Ter um bom alinhamento de expectativas.
- Fundos de Investimento de Risco (Venture Capital):
- O que são? São empresas especializadas em investimento em startups, geralmente em fases mais avançadas.
- Vantagens: Grandes quantidades de capital para impulsionar o crescimento rápido e escalabilidade. Gestão profissionalizada. Credibilidade.
- Desvantagens: Como decorrência de um investimento elevado vem uma diluição significativa de participação e pressão por resultados rápidos. Um VC geralmente mira uma retorno de 10 vezes o valor investido. O processo de investimento tende a ser burocrático e demorado, com due diligence rigorosa.
- Corporate Venture Capital:
- O que é?: Investimentos feitos por corporações em startups, buscando sinergias estratégicas.
- Vantagens: Pode ser uma boa oportunidade para escalar vendas na base de clientes da corporação. Uma marca forte traz credibilidade para startup que está começando. A corporação também pode trazer conhecimentos profundos do mercado que atua, bem como disponibilizar laboratórios e dados para validação da startup.
- Desvantagens: Pode representar certa perda de autonomia ou atraso nas decisões mais relevantes, como pivotar por exemplo, por depender da estratégia da empresa. Podem haver algumas restrições de mercado, como a de vender para os principais concorrentes. Pode limitar as opções de venda da startup, pois a corporação geralmente tem alguma preferência neste tema. O processo de investimento pode ser demorado.
- Dica: Muita atenção ao contrato de investimento, tentar evitar restrição de mercado ou cláusulas de preferência de compra da startup, pois inviabiliza qualquer outra alternativa. Alinhar bem como vai funcionar a gestão da startup. Conversar com outras startups do portfólio da corporação.
Cada tipo de investimento oferece diferentes níveis de apoio, controle e expectativa de retorno. Escolher o tipo certo depende muito do estágio da startup, suas necessidades específicas e os objetivos de longo prazo. Vale pesquisar e conversar bastante com empreendedores mais experientes.